segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Conto de Natal


Nevava sobre a serra…
Das agulhas dos pinheiros caíam farrapos branquinhos que imediatamente, como por milagre logo se transformavam em cristais transparentes dando lugar a uma paisagem digna de um postal ilustrado.
Duma chaminé ao longe saíam rolos de fumo em espiral. À medida que me aproximei a passos largos, ansioso por chegar, sentia no ar frio um forte cheiro a café que aquece a alma mesmo sem o saborear.
Apesar dos anos este cheiro tão agradável é diferente de todos os cafés que bebi nos vários países por onde andei, e não foram poucos.
A porta está entreaberta e eu chamo baixinho:
- Mãe… Mãe... Mãe… Jaquina, ó Jaquina?
Como não há qualquer resposta, resolvo contornar a casa que conheço como a palma das minhas mãos.
Lá bem no fundo do quintal, no meio das couves verdes, salpicadas de farrapitos de neve e a terra castanha manchada de branco vejo um vulto envolto num xaile preto deixando apenas à vista um rosto meigo e doce, apesar de cansado da dureza da vida; um rosto cheio de rugas, queimado pelo ar da serra.
Envolvi-a num terno abraço, que a assustou, virando-se de repente. Porém o susto deu lugar à alegria, pois já não nos víamos havia alguns anos.


Entrámos em casa e já sentados ao lume saboreámos enfim o tal café que há tanto tempo me fazia crescer água na boca, acompanhado de um pedaço de presunto e uma fatia de pão caseiro que ela mesmo amassara e cozera no forno comunitário da aldeia.
Depois de saciada a fome do corpo começámos a pôr as nossas conversas em dia, e foi assim até chegar a hora de ouvir o sino da aldeia a chamar para a missa do galo, e um pouco a medo, talvez receando uma resposta negativa lá perguntou:
-Vens com a Mãe? Ao que lhe respondi:
- Claro, porque não haveria de acompanhá-la…? Já tenho saudades… - E aí foi ver um brilhozinho feliz naqueles olhinhos doces.
Foi pôr a sua melhor saia, lenço, xaile e botim que só saíam da arca em ocasiões festivas.
Lá saímos de casa com o braço dela bem agarrado ao meu, pois o caminho era bastante sinuoso até para mim.
Quando chegamos ao largo da igreja fez questão de me mostrar a todos os presentes, dizendo orgulhosa:
- Vejam como o meu menino cresceu e olhem que até já vem doutor de verdade.
E já num tom mais triste acrescentou:
- Só é pena que eu tenha que ficar aqui sozinha, sem ter quem me cure das minhas maleitas.
Foi então que eu lhe dei a boa nova que ela tanto esperava:
- Mãe, não é bem assim… foi isso mesmo que eu cá vim fazer; passar o Natal consigo e depois levá-la para minha casa. Pois é esse o meu presente de Natal.
Tenho a certeza que o seu coração de noventa e cinco anos esteve em perigo por alguns segundos até conseguir articular a primeira frase:
- É verdade meu filho…?
Assistimos à missa, tal como eu a recordava da minha infância; com o beijo no pé do menino Jesus e cânticos aos pastorinhos. No final foi uma sessão de abraços e votos de boas festas.
No caminho de regresso a casa e um pouco cansada, perguntou algo receosa:
- Pensaste bem se sempre me queres levar para tua casa? Olha filho, eu não posso ajudar em nada, pois as minhas forças já não são o que eram.
Dizendo-lhe que não tinha que se preocupar, pois tinha chegado a hora dela descansar, prometi-lhe que voltaríamos à aldeia na Páscoa pois bem sabia o quanto ela gostava de a passar na sua terra.
Arranjou então uma mala com as suas coisas e, já à porta de casa olhou para traz, passando em revista tudo aquilo que tinha sido a sua vida e do qual nunca se tinha separado.
Com voz serena disse-me:
- Olha filho, deixo mais do que levo, pois aqui fica toda a minha vida. Mas valeu a pena ter vivido para ter o melhor Natal da minha vida, desde que tu nasceste e ter a certeza que não vou estar só quando Deus me quiser levar pois tenho quem me feche os olhos com amor.
Esforcei-me por segurar as lágrimas para que aquele momento não lhe tirasse a alegria espelhada no seu rosto… A verdade é que eu receava que jamais voltasse a ver a sua casa.


Felizmente Deus não quis assim e ainda vive feliz.
Tem já seis bisnetos passando um mês em casa de cada filho onde partilha as nossas alegrias e troca amor e carinho com filhos, netos e bisnetos que muito a respeitam e adoram.

Dedico este conto à Mãe de meu marido, que minha Mãe é também com um beijo e um abraço do tamanho do mundo.

Março 2007 Vinadolfo

terça-feira, 29 de agosto de 2017

As ," Travessuras" da Tininha

 A Tininha é uma menina encantadora que com os seus sete anos cheios de curiosidade e alegria, pediu a sua mãe para, por sua vez, pedir a uma tia que morava numa quinta na Beira Baixa, para passar as férias com ela.
Júlia sua mãe aceitou a ideia e falou com sua irmã que ficou encantada com a ideia, pois não tinha filhos e seria uma alegria ter uma criança em casa. Adorava a Tininha por ser tão esperta e doce. Depois de combinadas a data e alguns pormenores sobre a alimentação e regras, só faltava dar a boa notícia à Tininha  que pulou de alegria correndo em volta da mesa até ficar tonta.
          Chegou em fim o dia da viagem,eufórica quase não dormiu, acordou antes da Mãe e foi acordá-la,toda contente Tininha levava consigo uma mala com sua roupa e sua mochila com os seus brinquedos preferidos, mas ainda faltava o "TOM", seu peluche sem o qual não adormecia.
                                                                                                                                                                  Chegadas à estação do comboio, esperaram alguns minutos, para a garota pareciam anos tal era a ansiedade. A distância ainda era longa, a Tininha observava a paisagem fazendo mil e uma perguntas à mãe, para as quais nem sempre tinha resposta, tais como :
"-Mãe porque é que os cavalos estão soltos e não fogem? Porque é que o rio aqui não tem quase água e ali já tem tanta, será que se esqueceram de fechar a torneira?"
A mãe deixou sair uma gargalhada pela inocência da pergunta, e lá foi respondendo o melhor que sabia e de maneira simples.
Mais à frente viu um daqueles aspersores enormes, vulgo "pivots" que regavam toda a propriedade, perguntou para que serviam aqueles arcos, a mãe explicou por palavras simples, servem para regar o milho todo de uma só vez!  Muito intrigada  perguntou de seguida; " - Mãe mas o milho não é amarelo?! Eu só vejo paus verdes que parecem ervas grandes!"
Mais uma vez teve a explicação, a que seguiu, de imediato, mais uma pergunta, " - Ó mãe então no Céu também há coisas destas para fazer chover? -  Não filha a chuva vem das nuvens!"
Assim passou  mais depressa o tempo até chegarem à estação .À sua chegada na estação de Mora lá estava a tia Guida, mulher de tez morena e porte alto com um sorriso que cativaria qualquer criança, que de braços abertos recebeu a Tininha dando uma volta em  rodopio fazendo - a dar uma estridente gargalhada.
A pé tomaram o caminho que as levaria à quinta onde novas aventuras a esperavam.
Ao longe já se avistava um portão entreaberto e heis que como adivinhando a chegada de visita surge num repente um cão de grande porte, castanho e branco que se lançou em corrida na direcção de quem chegava pois que, era sua dona que voltava, da qual já sentia saudades porém, com a ansiedade e alegria deitou a pequena Tininha ao chão assustando-a, a ponto de a deixar a chorar tal o susto.
A tia Guida ralhou com  o Tucas, que era muito obediente e logo sossegou, dedicando-se a lamber a Tininha como que a pedir-lhe desculpa mas a garota, não muito convencida, refugiou-se nos braços da Mãe de onde só saiu já dentro de casa e de porta fechada, a seu pedido tal era seu medo.
Passado algum tempo depois de ver todas as divisões da casa, agarrando tudo o que achava que podia servir para brincadeira.
Chegou a hora do jantar, Tininha ofereceu-se logo para ajudar a pôr a mesa pois já estava habituada a fazê-lo em casa, a tia Guida aceitou  com um sorriso, ensinando-lhe o lugar onde guardava as coisas. Jantou, lavou os dentes, e foi para o quarto, bem abraçadinha ao seu " BECAS", o peluche sem o qual não adormecia, o sono chegou depressa e depressa passou tambem a noite.
Depois de uma noite bem dormida, a Tininha acordou com o ladrar do Tucas que entrara pelo quarto, abanando a cauda de satisfeito por ver a Tininha, embora ela não tivesse achado muita graça pois, ele saltara para cima da cama lambendo-lhe a cara, como que, a pedir-lhe que se levantasse para brincar com ele.
Levantou-se e, ainda a esfregar os olhitos, foi lavar a cara, os dentes e pediu ajuda à tia Guida para pentear seus caracóis, de seguida, correu para a cozinha onde a esperava um belo pequeno almoço com leite fresquinho e pão quentinho com manteiga, feito pela tia Guida.
Ainda não tinha acabado de comer, já o Tucas lhe puxava as fitas do bibe desafiando-a para a brincadeira e, lá foram para o quintal onde  já cacarejavam galinhas e grasnavam os patos com seus descendentes minúsculos e fofinhos , coisa que encantou a Tininha que nunca tinha visto tanta bicharada junta, apareceram correndo galinhas galos patos e coelhos a saltitar e até a cabrita  albina e o burrito jacinto acorreram ao pátio que mais parecia uma feira de animais domésticos, mas o que ela mais gostou foi da ninhada de pintos e patinhos que meios atrapalhados corriam para acompanhar suas mães.« A tia Guida largou seus afazeres e veio em socorro da Tininha pois todos queriam comer e só  ela tinha a ração que os deixaria calmos.Ora a Tininha nunca vira um porco a não ser na televisão e quando ouviu o grunhido dum perguntou à tia quem gritava assim ao que ela respondeu que era o " Rocas" porco que crescia e engordava numa pocilga ali perto , a tia deu á Tininha umas folhas de couve para ela dar como mimo ao porquito que as esperava de focinho a espreitar por cima da vedação, a miuda um pouco assustada com seu tamanho e volume sentiu receio de se aproximar, a tia segurando-lhe uma das mãos  por precaução levou-a até mais perto e a garota lá deu as folhitas ao Rocas que as devorou rapidamente.Assim passou num instante a manhã , alimentando toda a bicharada.Tudo decorria com muita alegria para a garota e sua tia pois há muito que não ouvia gargalhadas de criança feliz, terminado o dia e depois de uma bela banhoca o apetite não se fez esperar , Tininha foi ter com a tia á cozinha perguntar o que era o jantar! ao que obteve como resposta que era surpresa e que só depois de sentada á mesa o saberia, correndo depressa voltou  e se sentou no seu lugar esperando ansiosa . Quando a tia Guida apareceu com uma bela travessa de batatas fritas e um belo franguinho tostado, a miúda saltou de alegria , dizendo feliz ; umm !!! estou mesmo cheia de fome! a refeição começou depois  de uma breve oração de agradecimento pela comida que estava na mesa.Chegada a noite e já cansada Tininha rendeu-se ao sono mesmo antes de chegar à cama e adormeceu no sofá  a ver os desenhos animados. A tia com  muito carinho levou-a ao colo , vestiu-lhe o pijaminha e depois de a aconchegar , sentindo-se feliz afagou-lhe os cabelos dourados , voltando para a sala descansada e com a sensação de dever cumprido.
    Já o sol ia alto quando a garota acordou com uma lambidela do Tuca que saltitava chamando-a à sua maneira, Esfregando os olhos , a pequerrucha lá se levantou e chamando a tia seguiu o cheiro do pão fresco que já a esperava  na mesa assim como leite fresquinho, depois de bem alimentada pediu licença para se levantar da mesa, ao que seu tio autorizou . Correu então para abraçar a tia Guida  , que  a levantou no ar beijou e poisou no chão recomendando que pusesse o chapéu e não se afastá-se para fora da quinta . Tininha correu pelo  pátio fez festas aos patinhos e pintainhos e depois foi andando em direcção ao rebanho que pastava junto aos prados de milho, quando viu os bébés borreguitos ficou encantada e tentou agarrar um, não sem  antes ter dado uma cambalhota pois quando estava quase a agarrá-lo se escapou deixando a garota de pernas para o  ar. levantou-se sacudiu a terra do bibe e seguiu o seu passeio pelo campo florido parando aqui ou ali para apanhar flores silvestres . Caminhando contra o sol só parou dentro do milharado, sentou-se para descansar um pouco as pernitas que com o calor já acusavam cansaço, não tardou a chegar o sono que não conseguiu controlar e adormeceu ali mesmo sem dar pelo tempo passar. Acordou com uma lambidela na cara e pensou que seria o Tuca, mas quando se voltou  gritou assustada pois viu um animal grande e diferente que para ela era desconhecido e a encheu de medo e pôs a gritar e chorar ao mesmo tempo. O animal que tanto assustou a Tininha não passava de uma lontra de milho que é inofensiva mas que dado o seu aspecto escuro assustaria qualquer criança.A lontra depois de a cheirar e acordar correu atrás da garota até a ver fora do campo de milho que tinha como sua propriedade. Ao ouvirem gritos e choro de criança os tios que andavam nas lidas no celeiro correram de imediato para o exterior tentando ver de onde vinham os gritos e com a ajuda do tucas depressa descobriam a Tininha desfeita em lágrimas e a tremer de medo.Depois de acalmarem a menina explicaram-lhe que não havia perigo e que a lontra apenas estava a defender as crias que deviam estar perto e que nunca lhe faria mal.Tininha ainda sem estar  muito convencida apenas queria voltar para casa bem agarradinha á mão da tia.O dia foi longo e de susto o que entristeceu um pouco a garota que pediu para falar com a mãe ao telefone, para que esta a viesse buscar, tal tinha sido o susto.
   A mãe Júlia ao ouvir a vozita da filha da qual tambem já tinha muitas saudades ficou emocionada com a história e disse que a iria visitar no dia a seguir e que se ela quisesse voltar com ela assim seria, beijinhos trocados a garota tranquilizou e o resto do dia correu normal assim como a noite , até que o sono foi interrompido por um choro aflitivo que acordou os tios que correram para o quarto da garota que estava sentada e assustada chorando copiosamente, abraçaram-na e ao colo da tia  que a convenceu que não passava de um pesadelo, lá adormeceu de novo. A mãe Júlia chegou à hora do almoço, depois de mil abraços e beijinhos não mais se largaram, quando chegou a hora do comboio a mãe Julia perguntou! então Tininha queres ir com a mãe ou ficar com os tios até Domingo?e depois vais com a mãe e assim tinhas mais uns dias para brincar! a miúda lá se convenceu e ficou depois de se pendurar ao pescoço da mãe e a lambuzar de beijos lá a deixou partir. Pelo caminho para a estação as irmãs  conversaram muito e em desabafo Júlia acabou por confessar que estava muito doente e precisava que ela se tornasse mãe adoptiva da Tininha pois sua doença era muito grave e não queria que a filha a visse sofrer até ao fim, e assim sabia que a deixava bem entregue com pessoas que muito a amavam e ela partiria tranquila.Guida destroçada com as revelações da irmã não conseguiu controlar as lágrimas e as duas abraçadas choraram  sua dor até que depois de prometer a Jùlia que embora tivesse esperança que tudo não passava de um susto e que tudo se resolveria pelo melhor sempre seria como uma mãe para a Tininha  e Manuel seu marido um pai que ela nunca tinha conhecido.

     Os dias passavam normais e divertidos para a pequenita que já se habituara á vida de liberdade no campo.Porem aproximava-se a época escolar e a tia tinha que tratar  da sua matricula na escola local, mas para isso teria que arranjar uma razão para que a garota percebe-se o motivo da sua mudança.Chegada a hora do jantar, estando os três à  mesa, o tio com alguma graça começou a contar histórias do seu tempo de escola que seria a mesma onde a pequenita iria começar a nova etapa de sua vida, ela mesmo sem saber qual era a ideia perguntou? eu não posso ficar cá nessa escola? sabes tio a escola para onde eu tenho que ir é muito longe da minha casa e só tem  meninos e não tem baloiços no recreio, tenho que ficar lá até quase à noite quando a mãe vai buscar-me e não tenho com quem brincar e se fica-se aqui tinha tudo e quando sai-se vinha para casa e brincava com o Tucas e ajudava a tia a por a mesa, o Tio com algum alivio cruzou olhares com sua esposa e prometeu à garota que iria pedir à Mãe para que desse seu consentimento para ficar  lá na escola.Agora que um novo problema estava ultrapassado só faltava comunicar a notícia  a Júlia.
        Esperaram pela hora de Tininha estar a dormir para telefonarem á mãe para a porem ao corrente das notícias, que embora tristes a iriam sossegar pois pouparia a pequenita  ao sofrimento de sua doença .
Tinha começado um novo tratamento de quimio que a deixava muito debilitada e com a menina distante estava mais descansada pois sabia que estava bem entregue e não lhe faltaria  amor e atenção.Passaram duas semanas, Tininha foi visitar a escola , conhecer a que  iria ser sua professora e seus coleguinhas de turma, saltitava feliz com sua muchilita ás costas sob o olhar protector da Tia,quando tocou a campainha para poderem sair correu-lhe para os braços com um brilho de felicidade no olhar; perguntou à tia se voltaria todos os dias ao que Guida respondeu que sim,  que aquela seria agora a sua rotina até ás férias do Natal. Seguiram para casa onde devorou um belo lanche e como de costume seguidamente correu para o quintal para brincar com o Tucas

 e ir ao encontro do tio que tratava dos animais  e a deixou montar o potro segurando as rédeas para que não caí-se, deram uma volta pela quinta o que a deixou muito feliz .O dia tinha sido longo e depois de tomar um banho e jantar depressa se deixou dormir no sofá , pegando-lhe com muito cuidado para que não acordá-se a tia Guida levou-a para seu quartinho que mais parecia um quarto de princesa pois a tia tinha decorado de novo bem ao gosto de qualquer criança dessa idade. Beijando-lhe e face rosada e tranquila  ficou com uma teimosa lágrima a escorrer-lhe no rosto ao lembrar-se de como estaria sua irmã longe de sua pequenina e sofrendo sozinha.A noite passou lenta  para Guida e seu marido, pois se o presente era difícil  já se interrogavam como seria o futuro dos dois seres que tanto amavam.A manhã chegou soalheira e o ritmo  de vida continuou como sempre pois no campo nada pode parar tudo depende das mãos que o trabalham não se compadecendo das dores de cada um. Chegou o fim da tarde e com ela a hora de ir buscar a pequenita à escola para a rotina da noite.
. Tininha pediu ao tio se podia montar um pouquinho antes de tomar banho e jantar, ao que o tio acenou que sim, pulando de contente correu quanto pode para chegar primeiro a casa e dar a notícia à tia  Guida que já tratava do jantar, Tininha rodopiou à sua volta de feliz que estava.Era já bem tarde quando o telefone tocou deixando dois corações em sobressalto pois sempre que tal acontecia quase sempre as notícias eram preocupantes, porem desta vez era diferente; era Júlia e sua voz estava ofegante mas de alegria pois tinha boas notícias.  Júlia estava radiante pois seu tratamento tinha tido dado bons resultados  e sua doença estava em remissão e assim poderia criar sua filhinha. ao que com a voz embargada Guida ria e chorava ao mesmo tempo,combinando que viesse passar uns tempos em sua casa para melhor recuperar e matando saudades da filha, recomendando-lhe que se cuidá-se para que não houvesse recaídas pois suas defesas estavam fracas e havia que recuperar com muita paz e boa alimentação, ao que  sua irmã aceitou de bom grado concordando que seriam eles que a iriam buscar para que não tivesse que vir de comboio que para ela seria mais cansativo.Para que a Tininha não ficasse demasiado agitada não lhes contaram da próxima chegada da mãe que ficara marcada para o próximo fim de semana.
Guida começou de imediato a pensar como e onde iria instalar sua irmã para que a vida lhe fosse o mais simples e agradável possível, de tanto pensar acabou por adormecer.Três dias passaram a correr, Guida aproveitou o tempo em que Tininha estava na escola para  pintar e decorar o quarto que tinha pertencido seus pais e há muito estava fechado e cheio de coisas antigas que só trariam tristes recordações a Júlia por isso acartou tudo para um anexo da quinta,  pintou de cores claras e positivas pôs cortinas floridas e encheu a cama de almofadas a condizer, nas paredes colocou quadros com fotos de seus momentos de infância que tinha sido feliz, o chão brilhava de limpo , em seguida fechou de novo a porta que só seria de novo aberta quando da chegada da nova hospede que  chegaria na manhã seguinte.Era sábado , Guida e seu marido trataram dos animais e ligaram os motores de rega, penderam o Tucas e foi dar uma vista de olhos à  rosada uma burrinha que esperava sua primeira cria que nasceria a qualquer momento , pôs-lhe palha fresca e ração suficiente até que chegassem da viagem  voltaram a casa para acordarem a garota que ainda dormia tranquila.
 Depois dumas festas nos caracóis revoltos e uns beijinhos na face rosada; começou a espreguiçar-se , carinhosamente a tia Guida começou a chamar a Tininha e a fazer-lhe cocegas , lá conseguiu que acordasse bem disposta, agarrou-a ao colo para a levar para o banho, de seguida deu-lhe o pequeno almoço e vestiu-a penteou seus caracois pondo-lhe um laçarote vermelho a condizer com seu vestido.Tininha admirada por se ver tão bonita perguntou á tia ! ó tia Guida ? onde vamos assim tão bem vestidas? é a algum casamento?.Guida respondeu que era surpresa e que " Ela" ia adorar.O Tio chamou-as para o carro que já estava fora do portão.
       Durante a viagem , Tininha cantarolou ,  atirei o pau ao gato, e olha a bola Manel, estava feliz e entretanto ia perguntando se ainda faltava muito , Só quando reconheceu a rua  onde morava gritou de alegria , vou ver a Mãe vou ver a Mãe que bom .Com cuidado a tia foi preparando a pequenita para o novo aspecto físico que iria ver na mãe.Olha Tininha a mãe cortou o cabelo para não se cansar a pentear-se pois está um pouco fraca por ter tomado muitos remédios, mas tudo vai passar. Tininha que sempre tinha resposta pronta retorquiu! então podia-mos levar a mãe para casa da tia e lá ela comia melhor aquelas sopas  da tia e o pão quentinho com o leitinho da malhadinha "Vaca" que é tão bom: ela vai ficar boa mais depressa.Guida ficou aliviada pois era essa a intenção e ao ver que que era o desejo da garota sentiu que um dos problemas estava resolvido e riu de feliz que ficou. Chegaram por fim à casa da Mãe Júlia que não tinha sentido o aproximar do carro, Bateram à porta e não tiveram que esperar muito pois em segundos a mesma se abriu e de lá saiu uma Júlia alegre e feliz que correu para a filhota esquecendo a irmã e cunhado abraçou-a como se não a visse há anos, porem foram apenas meses, mas meses de desespero pensando que não voltaria a abraça-la : ria e chorava ao mesmo tempo e afastava e aproximava a filhota dizendo! estás linda e crescida , acho que os ares da quinta são tão bons que também quero ir para lá!.Guida nem queria acreditar no que ouvia, tudo estava a correr bem e sem pressões como chegara a prever.Depois de acalmarem entraram em casa onde os esperava um almoço preparado com todo o carinho pela Júlia ,Ao fim do dia , depois de fazerem a mala para que Júlia volta-se com eles para a quinta fizeram a viagem quase em silêncio pois a pequenita adormecera depois de tanta emoção . Quando chegaram à quinta depois da garota  ir ver a bicharada e dar umas corridinhas com o tucas voltou para dentro e depois de jantar acabou por adormecer  no sofá pois estava cansada da viagem e das emoções do encontro com a Mãe, e foi ao colo do tio que foi para a cama onde dormiu a noite inteira Mais um dia nasceu cheio de sol, as galinhas cantavam anunciando que havia ovos fresquinhos , e toda a bicharada  reclamava comida e porteiras abertas para gozarem o dia em liberdade.Tininha acordou  esfregou os olhitos e saltou para a cama da mãe , como que a certificar-se se realmente era verdade que a tinha mesmo ali ao alcance de seus braços, foi recebida de braços abertos  e sorrisos doces de sua mãe. Da cozinha veio uma voz doce e alegre que cantarolando chamava as convidadas para o maravilhoso pequeno almoço que as esperava, onde não faltava o leitinho fresco da malhadinha, e pão quente para comerem com compotas também elas feitas pela tia  Guida que não cabia em si de contente por ter a família junta. Manuel fora à vila  buscar bens necessários para a Tininha, iogurtes e fruta fresca que não tinha na quinta, sempre preocupado que nada falta-se aquela que já considerava como sua filha e lhe tinha trazido à vida um gosto diferente.
            Havia muita coisa nova para fazer, agora que a família aumentara. Guida depois da refeição e dos trabalhos de rotina terem sido feitos chamou Júlia  e a Tininha para junto de si  e sentaram-se no cadeirão de verga  no alpendre da casa, que convidava  pela beleza das flores e trepadeiras que com seu perfume tornavam encantador esse recanto. Enquanto a miúda corria a disputar uma bola ao tucas elas punham suas conversas em dia e estabeleciam  regras para começo de uma nova vida para Júlia para tentar que tivesse o tempo preenchido de modo a que a doença não fizesse parte de seus pensamentos. Os dias corriam  com normalidade,apenas a estação do ano mudou e chegaram as primeiras chuvas de outono, e também a hora de recolher fenos e recolher os animais pois no Ribatejo quando chove é raro não haver inundações e há que prevenir e evitar os prejuízos com animais e colheitas.O mau tempo ameaçava e  Manuel sabia que sozinho não conseguia dar conta do recado e resolveu pedir ajuda a um amigo de perto .Pedro o amigo do Manuel logo se prontificou a ajudar no que fosse preciso, acompanhou o Manuel à quinta começaram a organizar a melhor maneira de por tudo a salvo, e assim recolhido o gado, feno e cobertas todas as máquinas agrícolas para que nada se estragasse.
          Pedro era um homem simpático com mais ou menos quarenta anos que tinha ficado viúvo há dois, dividia seu tempo entre as tarefas do campo onde buscava seu sustento e a pintura como  distracção, pintava especialmente cenas da vida no campo e animais, nunca prendeu ma criou o seu próprio estilo.  Sempre pronto para ajudar os vizinhos em caso de aflição quer com as colheitas ou animais quase um pouco de veterinário quando algum animal entrava em partos difíceis, por esse motivo era estimado e respeitado por todos.
            Manuel convidou Pedro para ficar para jantar aproveitando para passarem um serão em família,o que muito lhe  agradou pois há muito que não se reuniam assim.A ultima vez tinha sido quando Isabel sua esposa tinha falecido após grave doença .O jantar decorreu com muita alegria , poisa Tininha encarregou-se de divertir a família , cantando as cantigas que tinha aprendido na escola  e com suas gargalhadas cristalinas contagiava todos. Chegou a hora da despedida de Pedro. não antes de prometer que voltaria para repetir tão bons momentos que o fizeram sentir de novo o ambiente familiar de que tanto gostava e tinha saudades. Júlia também estava feliz pois tinha feito um amigo com o qual simpatizou de  imediato prometendo que voltariam a encontrar-se de novo.As Férias estavam a terminar e  Tininha já fazia perguntas aos tios e a sua Mãe, meio atrapalhados não sabiam como responder à pequenita que se mostrava inquieta , pois não queria voltar casa onde lhe faltava a liberdade e brincadeiras a que já se habituara na quinta dos tios.Muito a custo lá conseguiram convencer prometendo que regressaria nas férias da Páscoa.Depois de ouvir as promessas a garota começou a fazer seus pedidos, tia Guida posso levar o tucas?  ao que a tia dando uma risada respondeu! ó Tininha já pensaste como seria o tucas dentro da tua casa fechado? destruía tudo e quando apanha-se a porta aberta fugia logo! olha a tia promete que quando tiver um cachorrinho pequenino lhe põe o nome de tucas e vai levá-lo lá a casa e assim já podes ter com quem brincar e matar saudades daqui.Ó tia e um pintainho posso levar? a Mãe põe na varanda e eu dou-lhe milho igual a seu e restinhos de bolos para ele também se lembrar daqui da quinta: prendo ao banco para não fugir.Pronto levas o pintainho, respondeu a mãe dando uma piscadela de olho à irmã  dando assim uma alegria à garota , que pulou de contente dizendo que lhe ia chamar Guida para se lembrar da tia; ao que se seguiu uma gargalhada geral.Chegou a noite e já de malas feitas e a garota a dormir: as irmãs ficaram a conversar sobre os projectos que tinham para a garota no próximo ano  e programando as próprias vidas onde a garota era a principal preocupação.Assim terminava a aventura das férias da Tininha com suas travessuras , que tal como mudou sua vida mudou igualmente e para melhor a vida dos Tios  com sua alegria lhes deu um novo sentido e uma felicidade como se de uma filha se trata-se e da Mãe que pelo menos durante aquele tempo tinha esquecido a doença e ganho uma nova confiança na vida por saber que se algo lhe acontecesse a filha teria quem a ama-se e lhe garanti-se um futuro feliz.                                                                                                                                                                                                                                                                                                 De Etelvina Martins Adolfo                                                                                                                                                                                                                                                                                         Para todas as Tininhas felizes e Mães como Júlia corajosas e guerreiras.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

                       Velhice
 
          
                      Tão linda se é feliz
                      olhos pequenos encovados
                      como crianças ladinas 
                      pedindo rebuçados. 
                   
                      
                      Crianças são tal e qual 
                      quase sempre perdem tino 
                      quando se chega a velho, 
                      é-se de novo menino .
                      
                      Tão bom se alguém ama
                      e acarinha com desvêlo
                      vale a pena viver
                      Deus ajuda a fazê-lo    
 
 
                      Tão triste se doente
                      se for trabalhosa ,
                      se um estranho ajuda
                      logo se torna duvidosa.    
   
                      Custa tão pouco sorrir                                              passar-lhe a mão na face 
                      quando estão a morrer
                      é como se a vida voltasse.  

terça-feira, 12 de junho de 2012

A primeira viagem de avião


De olhos bem colados ao vidro do minúsculo óculo, ela tentava descobrir algo de novo quando descobriu uma nuvem que ao sentir-se observada por tais olhitos indiscretos sequiosos de decifrar , se aquilo tão branquinho, seria neve ou nuvem: pois ela , a nuvem resolveu desdobrar-se alongando-se deixou de parecer, nem nuvem nem neve, mas sim um urso branquinho deitado de papo para o ar , ou seja de barriga parapara o ar, até que uma outra se lhe juntou tão rápido que a visão se transformou em lombos de focas que deslizavam no mar azul: neste caso céu, indo ao encontro de um enorme icebergue,que deslizava a uma velocidade vertiginosa,. por segundos desviou o olhar e quando voltou a   tudo se transforma numa grande  tijela azul cheia de alvas clraras batidas em castelo, ás quais só faltava o açucar para se transfomarem em deliciosos suspiros, farófias´ ou papos de anjo , que a deixavam de água na boca, voltou a olhar de novo e tudo se transformara , dando lugar desta vez a uma paisagem, formada por uma enorme floresta que de vez em quando lhe deixava ver uma estrada serpenteando, que mais parecia o caudal de um rio que em vez de descer subia montanhas e vales ,e quando reparou o tempo tinha passado e o avião já sobrevoava terras de França e ao longe já vislumbrava a elegante estrutura metálica que ´só podia ser a Torre Eifel com que tanto tinha sonhado. e assim acabou parte de um sonho ., A sua primeira viagem de avião, e foi com as pernas a tremer que desceu as escadas do avião que lhe tinha proporcionado tão maravilhoso somho. Mas iria começar um outro não menos importante: conhecer a cidade luz de que tanto ouvira falar maravilhas.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Direito a ter medo

Medo de crescer, medo do escuro da água da trovoada, todos os medos de qualquer criança, depois , medo por ter crescido e não ser capaz de  corresponder ao que os outros esperavam de mim.Passaram os anos, outros medos, o medo de amar, de sofrer por amar,e os medos não acabam, medo de casar de ser mãe, de ser capaz de o ser, de o saber ser, passaram esses medos, amei e fui mãe, um casalinho fui feliz vê-los crescer e constituirem familia afastou um pouco a sensação de medo,vieram os netos tesouro dos tesouros, e ai voltaram outros medos, passaram tantos anos num instante.E agora, agora tenho medo, medo de perder tudo o que ganhei, o amor, os filhos, os netos, toda a felicidade que a vida me deu, medo de não ter tempo para ter todos os medos de uma velhice feliz, amando e sendo amada. Afinal o medo é um direito adquirido que ninguém quer sentir.